Invasões a condomínios

Especialistas em segurança condominial revelam os principais disfarces e artimanhas usados por criminosos

Boa lábia e vestimentas que imitam características de uma faixa etária, classe social, profissão ou etnia são táticas comuns de golpistas que, somadas ao chamado “efeito carona”, explicam o êxito de muitas invasões a condomínios. “Mais de 90% das invasões acontecem pela porta da frente. Visito cerca de dois condomínios invadidos por semana, sendo que, na maioria das vezes, houve falha humana”, alerta José Elias de Godoy, policial militar veterano e especialista em segurança condominial.

Magna Fernandes, consultora em segurança patrimonial e prestadora de serviço no Senac como docente em segurança condominial, observa uma sofisticação crescente nas estratégias adotadas por criminosos para acessar edificações. “Há até mesmo indivíduos acompanhados de crianças, que fingem ser moradores ou convidados, contando com a distração ou falta de treinamento dos porteiros para entrar sem autorização”, comenta.

Barreiras físicas e tecnologias são indispensáveis para a segurança condominial, mas o investimento em treinamento e atualização da equipe de portaria é igualmente essencial. No entanto, não basta apenas capacitar. Tanto José Elias quanto Magna ressaltam que o funcionário precisa se sentir acolhido pela gestão diante de eventuais repreensões de moradores por simplesmente cumprir os procedimentos de segurança. Se faltar esse respaldo, ele pode ficar mais suscetível a erros. Portaria, moradores e síndico têm de estar alinhados aos protocolos de segurança do prédio. “Não existem exceções na liberação dos acessos ao condomínio. Quem não é morador é estranho — e estranho só entra com autorização formal”, resume José Elias.

Estratégias efetivas de proteção envolvem seguir à risca as normas do condomínio e identificar as táticas utilizadas por criminosos. Veja, a seguir, as artimanhas mais comuns:

FALSO HÓSPEDE/PARENTE
Alguém liga para a portaria, finge ser morador e informa que certas pessoas, apresentadas como parentes, ficarão hospedadas em seu apartamento. Afirmam que já possuem as chaves e fornecem dados de documentos (falsos) para dar credibilidade.
COMO AGIR: Não aceitar liberações por telefone. Somente pelo aplicativo do condomínio, interfone ou pessoalmente. Se o condomínio permitir esse tipo de liberação, ela deve ser feita pelo sistema web, com dados de confirmação, ou por meio de senha e contrassenha.

FALSA GRÁVIDA
Mulher disfarçada de gestante simula dor, fragilidade ou necessidade de usar o banheiro e apela para a empatia do porteiro para conseguir acesso.
COMO AGIR: Cumprir rigorosamente as regras do condomínio, jamais se deixar guiar pelo impulso emocional. A portaria deve agir com técnica, não com pena, seja qual for a condição física aparente da pessoa. Pode-se oferecer para chamar o Samu (192).

FALSA VISITA NA CHUVA
Alguém bem-vestido, sob chuva, diz ter uma visita ou reunião agendada com determinado morador, mas não lembra o número do apartamento. Pede abrigo para pegar um cartão da pasta, entra e rende a portaria, liberando comparsas.
COMO AGIR: Explicar, com cordialidade, que não é permitido abrir o portão sem identificação e aviso prévio do morador. Em caso de insistência, chamar a Polícia Militar (190).

FALSO CORRETOR DE IMÓVEIS
Criminosos fingem ser corretores, possuem conhecimento sobre o condomínio e os apartamentos à venda. Podem estar acompanhados de supostos clientes, ostentar chaves falsas e oferecer comissões fictícias para ganhar a confiança do porteiro.
COMO AGIR: Só permitir visitas com autorização escrita do proprietário, contendo nome, RG e número do CRECI dos corretores.

FALSO AGENTE DE SAÚDE
Fingindo serem agentes de saúde ou da vigilância sanitária, criminosos se apresentam com jaleco, crachá falso e equipamentos. Alegam necessidade de avaliar áreas comuns, aplicar vacinas ou coletar exames.
COMO AGIR: A portaria deve barrar o acesso, avisar o síndico e confirmar a informação com a vigilância sanitária, pois órgãos públicos não atuam sem autorização. Se insistirem, chamar a polícia. Para atendimentos particulares, o morador deve informar os dados antecipadamente.

FALSO MORADOR
Golpistas se vestem e imitam características de moradores para entrar pelo portão de pedestres, confundindo o porteiro. Estudam os hábitos da comunidade e tentam se misturar ao ambiente.
COMO AGIR: O porteiro deve barrar a entrada da pessoa até ter certeza da identidade, ainda que existam moradores conhecidos querendo passar. Não permitir a entrada sem confirmação, nem deixar a guarita. Observar o rosto à distância ou por câmeras e fazer perguntas para esclarecer dúvidas.

FALSO LEITURISTA
Criminosos, a par da rotina de leituras de consumo, se disfarçam como funcionários de concessionárias de água, luz e gás. Tentam entrar dias antes da data prevista para praticar furtos ou liberar comparsas.
COMO AGIR: Verificar o crachá do suposto funcionário. Nunca abrir a guarita nem permitir que ele circule sozinho. Se a verificação for positiva, chamar o zelador ou o responsável para acompanhá-lo.

FALSO POLICIAL OU ADVOGADO
Criminosos se passam por agentes da lei, usando distintivos e fardas falsificados, fazendo pressão e ameaças para abrir o portão rapidamente, com o objetivo de render o porteiro e invadir apartamentos já escolhidos.
COMO AGIR: Não ceder à pressão, a situação é mais comum que se imagina e meliantes se valem da intimidação. Permanecer na portaria e acionar o responsável pelo prédio. Só permitir a entrada com verificação rigorosa de documentos oficiais e crachás. Se houver insistência, chamar a polícia.

FALSO ACOMPANHANTE
Criminoso rende um visitante que chega a pé e finge acompanhá-lo até a portaria. Muitas vezes, o porteiro coleta a identificação de apenas uma pessoa, permitindo a entrada de todos após a liberação do morador.
COMO AGIR: Coletar os dados de todas as pessoas presentes e repassá-los ao morador para confirmação antes de liberar a entrada.

FALSO FISCAL DA DENGUE
Criminosos com trajes e crachás falsos se dizem agentes que atuam no combate à dengue e tentam entrar no condomínio para vistoria e pulverização.
COMO AGIR: Não permitir a entrada. A pulverização é feita apenas em áreas públicas. Se houver insistência, chamar a polícia.

FALSA VISITA
Pessoa simpática e bem-apresentada, geralmente uma mulher, conquista o porteiro com conversa, dizendo-se visitante. Ao liberar a entrada, ele é rendido.
COMO AGIR: Seguir os procedimentos sem exceções. Solicitar sempre identificação e confirmar com o morador se a visita é esperada.

FALSO ENTREGADOR
Há situações como: 1) o criminoso rende o entregador real e tenta entrar no condomínio usando a entrega como justificativa; 2) o criminoso se passa por entregador com pacote propositalmente grande (que não cabe no passa-volumes) para forçar o porteiro a abrir a clausura.
COMO AGIR: Entregadores nunca devem entrar. Se a encomenda for grande, pedir que a deixe no chão, dentro da clausura, e só retirá-la depois que a pessoa já estiver do lado de fora e o portão, fechado.

FALSO PRESTADOR DE SERVIÇOS
Com informações sobre serviços agendados, criminosos se passam por técnicos e entram antes do horário previsto.
COMO AGIR: Confirmar o horário com o morador e exigir crachá com foto, documento e ordem de serviço. Se houver dúvida, contatar o morador e a empresa prestadora.

FALSO TELEFONEMA
Criminoso liga para a portaria fingindo ser morador e libera a entrada de um comparsa. O golpe pode ser simples ou sofisticado, pois a inteligência artificial, hoje, consegue simular vozes parecidas.
COMO AGIR: Nunca liberar a entrada apenas por telefone. Confirmar sempre com o número cadastrado na portaria ou via interfone.

ADOLESCENTES
Jovens bem-vestidos, com tênis caros e mochila, se passam por amigos de moradores e entram sem autorização.
COMO AGIR: Triar todos os visitantes, exigir nome completo e confirmação com o responsável da unidade. Nunca generalizar como “amigos do seu filho estão na portaria”, o que tende a confundir quem atende o interfone.

PESSOA “DESESPERADA”
Alguém, aparentemente assaltado ou ferido, pede para entrar e usar o telefone ou beber água, buscando comover o porteiro.
COMO AGIR: Não permitir a entrada. Permanecer na portaria e, se necessário, chamar a polícia ou o SAMU, em caso de ferimentos.

ALUGUEL POR TEMPORADA
Criminoso finge ter alugado imóvel por aplicativo e tenta convencer o porteiro com dados reais do proprietário.
COMO AGIR: Pedir identificação e confirmar diretamente com o dono do imóvel. Se não for possível confirmar, negar a entrada e acionar a polícia.

“CARONA” NO PORTÃO DE PEDESTRES
O golpe é clássico, não sai de moda. Criminoso entra junto com outro morador, fingindo ser acompanhante.
COMO AGIR: Confirmar com o morador quem é a pessoa que o acompanha. Se não for identificado, não liberar o segundo portão e acionar a polícia.

GOLPE DA GARAGEM
Há situações como: 1) carro tenta entrar embicado enquanto o portão abre para outro veículo; 2) criminoso usa veículo semelhante ao de um morador para tentar entrar, geralmente durante a troca de turno.
COMO AGIR: Manter rigor na triagem facial. Não se deixar pressionar por “buzinaço” ou fila de carros. Se houver suspeita, trancar o portão e acionar a polícia.

Matéria publicada na edição-313-jul/25 da Revista Direcional Condomínios

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